Entre Céu e Submundo
- meiky
- 12 hours ago
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Naquela quinta-feira,
enquanto o mundo girava distraído,
era meu aniversário.
Eu não disse.
Talvez por proteção.
Talvez por encanto.
Mas ele chegou mesmo assim
não como um presente,
mas como uma aparição.
Não caiu do céu,
nem veio das profundezas,
mas de um entrelugar onde os belos e os perdidos moram,
carregando nos olhos a memória de algo que não se viveu,
mas que arde mesmo assim.
Chamava-se Ganimedes.
Claro que chamava.
Seu toque era doce,
mas não inocente.
Seu riso?
Um portal, aberto só por segundos,
mas suficientes para me fazer esquecer a solidão.
Na minha casa, dividimos comida.
No cinema, dividimos silêncio.
Nos lençóis, dividimos a pele, o fôlego,
e algo mais que não se nomeia sem perder a magia.
Ele não sabia que era meu dia de nascer outra vez.
Talvez eu também não soubesse até então.
Mas quando me virei na madrugada e senti seu corpo quente
respirando junto ao meu
... entendi.

Eu era Persephone.
Mas não raptada.
Dessa vez, eu escolhi descer.
Descer ao desejo, à incerteza,
ao olhar de um homem que também carrega prisões invisíveis.
Eu vi a beleza dele.
E vi sua dor.
E, por uma noite, não tentei resgatá-lo
apenas o abracei onde ele estava.
Pela manhã, ele partiu.
E o mundo… não caiu.
Fiquei sozinha,
mas inteira.
Com um feitiço novo na boca.
Com uma história que é só minha.
Talvez ele pense em mim.
Talvez não.
Mas sei que fomos verdade.
E no dia em que nasci de novo,
entre o céu e o submundo,
eu me dei um presente:
a permissão de sentir,
sem me perder.





